Lição 6 - (Julho/Agosto-2011): Quando a vida é interrompida e os sonhos também. Não há o que ser feito ?

Lição 6 -  (Julho/Agosto-2011): Quando a vida é interrompida e os sonhos também. 

Não há o que ser feito ? 

Certamente esta foi a lição mais difícil do ano. Ninguém nasce preparado para lidar com a morte, principalmente quando ela aparece em nossas vidas de forma inesperada. Dias antes de embarcar para a Suíça, às 08:35h de um sábado, o telefone tocou e na linha estava meu irmão Fabiano dizendo para eu entrar contato com urgência com um nosso amigo, qual a esposa estava grávida. A previsão do nascimento era para a semana seguinte. Todos os planejamentos feitos. Todos os sonhos construídos na esperança de uma vida que iria chegar. Como esses amigos não são brasileiros, mais do que depressa fiz contato e a o retorno não foi nada bom. Ele me pediu para que fosse com urgência a um Hospital, pois algo tinha acontecido com a criança que estava por chegar (36 semanas de gestação...). 

Chegando no Hospital, constatei o que nenhum médico quer constatar e falar para alguém: a criança seria uma natimorta, por causa de um nó verdadeiro de cordão umbilical. Situação descrita com raridade na literatura, contudo, se acontece com você ou alguém que você gosta, a afetação é de 100% (parafraseando uma fala que LFSAC me falou uma vez). Estávamos em uma maternidade, onde casais saem com seus filhos recém nascidos. Entretanto, quis o destino que aquele casal saísse com um natimorto. Ninguém se prepara para a "morte" de uma criança que esta por vir. Tive de ser muito forte naquele dia. A vontade que eu tinha era de chorar sem parar, quando percebi o que estava acontecendo. Confesso, segurei o máximo que pude. Além de lidar com a situação de morte, imediatamente fui junto com o meu amigo, que seria pai, tomar as providências legais para o velório/funeral/cremação do natimorto. Quando chegamos a funerária, tive de fazer uma difícil escolha. O recepcionista da funerária me levou a um salão e me apresentou as urnas (caixões), onde eu estava vendo apenas os de adultos. Bem no canto, existiam alguns caixões brancos, pequenos, destinados a crianças e recém-nascidos. Meu amigo havia ficado na ante-sala. No momento em que vi as urnas brancas, não consegui mais me conter: comecei a chorar copiosamente. Eu não poderia fazer aquela escolha sozinho e eu teria de chamar meu amigo na ante-sala e mostrar para que ele escolhesse. Foi muito difícil. O que pude fazer ? Chorar muito, junto com meu amigo. Ninguém conseguia falar nada, apenas chorávamos. Feita a escolha, acertadas as questões burocráticas,outros desafios daquele dia ainda iriam aparecer, como buscar a certidão de óbito e proceder com as cerimônias do funeral. Um dia que gostaria que fosse apagado de minha memória. 

Abalado com o que ocorrera, viajamos para a Gymnaestrada com ótimas expectativas. Precisava de toda a alegria que esperava encontrar. Como já leram na lição 4, foi tudo muito bacana e eu estava realmente muito feliz após aquilo tudo. Por volta do dia 20 de Julho de 2011 fiz um contato pelo Facebook com um grande amigo de infância, qual é meu padrinho de casamento e eu dele, Luiz Felipe, que estava passando alguns dias em Belo Horizonte. Há um ano ele havia se mudado para o Ceará, por causa de um concurso público que sua esposa havia passado. Quis o destino que nos desencontrássemos, sabe-se lá porque (Ele havia chegado em BH e eu estava partindo para a Gymnaestrada). Alguns dias antes, ele havia me dito que tinha algo para contar, mas que teria de ser pessoalmente. Curiosamente, no mês de abril de 2011, outra ocasião que ele estava em BH, quando iríamos nos encontrar,  sua esposa teve a bolsa furtada e também não havíamos nos encontrado. Em 20/07/2011, o Luiz me revelou que iria ser Pai e que estava muito feliz. Eu fiquei muito emocionado, pois sabia o quanto ele desejava ser Pai. Eu estava em uma cidade da Alemanha, chamada "Titi-See". Lembro direitinho daquele momento. Desta vez, chorava de alegria.

O Luiz não era "mais um amigo". Ele era "o amigo". Aquele em que se confia de verdade. Aquele amigo que escolhemos para compartilhar as alegrias e tristezas da vida. Aquele em que podemos contar em qualquer momento. Aquele que vai estar ao nosso lado sempre que precisarmos, da mesma forma em que nossa família também estará. O Luiz era um gênio, com capacidades e virtudes que não se encontram mais nas pessoas. Luiz era um ser Humano completo, preocupava-se realmente com as pessoas. Já presenciei cenas em que mesmo sem poder, Luiz estava ajudando outras pessoas. Bondade no coração. Sua história de vida era muito triste e eu sabia disso. Por isso, sempre procurei estar bem perto do meu amigo e tentar
ajuda-lo em sua caminhada. Às vezes, passando na porta de sua casa, quando Luiz ainda morava em Belo Horizonte, parava para comprar um lanche e levava para ele. Coisas assim, simples da vida. Como dois irmãos, tomávamos um lanche de final de dia juntos. Costumávamos conversar sobre a vida, sobre o futuro, sonhos, possibilidades e o que estávamos tentando fazer para alcança-los. Luiz era muito exigente consigo, mas, pudera, com tamanha capacidade e inteligência, tinha de ser mesmo. Contudo, eu sempre lhe dizia para ir devagar, que as coisas iriam se acertar. Luiz sempre foi um excelente aluno no colégio. Esforçado e comprometido.É claro que tinha suas dificuldades, como todos temos. Éramos uns palhaços, pois fazíamos muita bagunça juntos. Veja, coloco aqui para reflexão, como a vida simples pode ser essencialmente feliz. Àquela época, não tínhamos nada e nem éramos nada profissionalmente, mas éramos muito felizes. 

Luiz se formou em Direito, mas, descobriu a fotografia em 2004. Como era detentor de conhecimentos avançados de informática, em pouco tempo, estudando sozinho, tornou-se um fotógrafo profissional de excelência. Foi ele quem me motivou para começar a fazer fotografias, como uma forma de expressão de arte. Serei eternamente grato a isso.  

Luiz conseguia captar a sensibilidade dos momentos de forma perfeita. Suas fotografias passaram a chamar a atenção, ganhando vários concursos e estabelecendo-se como um renomado fotógrafo profissional de casamentos. Eu nem sabia, mas, até pessoas de fora do Brasil já estavam descobrindo seu trabalho. Certa vez, ele falou assim comigo: "fotografia é a captação de luz. Entretanto, se não houver uma percepção do momento que está sendo captado, eu digo, sensibilidade, a imagem será apenas um click e não o click. Conhecer o funcionamento de uma máquina e utilizar a sua sensibilidade para captação de um momento, irá resultar em uma imagem diferenciada". 

No dia 25/07/2011, estava na sala de embarque do Aeroporto de Zurique, quando conversei um pouco mais com o Luiz pelo Facebook. Naquele dia, conversamos pouco. Ele perguntou quando eu iria fazer uma visita a ele no Ceará. Eu respondi que estava programando, para tentar visita-lo em breve. Conversamos pouco. Cheguei no Brasil no dia 26/07/2011, com uma troca de 5 fusos horários. No dia 27/07/2011, por volta de 22:35h, quando havia acabado de deitar, o telefone tocou. Tati atendeu e logo passou para mim. Era o cunhado do Luiz, querido amigo Léo César, que me deu a notícia de que havia acabado de acontecer uma fatalidade. Eu entrei em um estado de choque. Não pude controlar, absolutamente, nenhuma de minhas sensações. A perda de alguém tão próximo dói muito sim. Porém, quando esta perda ocorre de forma abrupta, inesperada, como uma fatalidade, em alguém tão jovem e prestes a ser Pai, é ago inexplicável. Tentei ajudar o máximo que eu pude a família do Luiz. Acho que poderia ter feito mais, porém, eu não dei conta de fazer além do que eu fiz. Os dias que se seguiram foram muito tristes. Interrompi todas minhas atividades por quase 20 dias. Simplesmente, eu não conseguia raciocinar. O choque emocional foi em demasia. Nesses 20 dias, fiz uma reflexão sobre a minha vida, sobre as pessoas que me cercam e que eu amo. Procurei me apoiar na família e amigos. Foi muito, muito difícil. Não há muito o que se falar em situações como esta, mas, aprendi que o que pode ser feito e procurar se cuidar. Fazer coisas que você realmente gosta, deixar velhos hábitos de lado, falar para as pessoas o quanto são importantes para você e que você as ama: Pai, Mãe, Irmãos e Amigos. Nunca se sabe o que vai ocorrer no dia de amanhã. E, acredite, não estamos preparados para algumas "surpresas" da vida. Porém, quando elas aparecem, descobrimos que somos mais fortes do que pensamos e que pessoas que você nunca imaginou que estenderia a mão amiga, irão ajudar. Mudei muito depois do que ocorreu, mas, os meus princípios básicos de vida permaneceram. Um destes, qual procuro fazer diariamente: procurar fazer o bem. A vida é justa e se encarrega de lhe ajudar e de retornar suas boas intenções. O mesmo ocorre também quando as más intenções acontecem, por isso, cuidado com os pensamentos. 

Quando acontece uma fatalidade, ficamos pensando sempre sobre a cláusula condicional "Se". "Se" isso tivesse acontecido, "aquilo" outro não teria ocorrido. Infelizmente, são cláusulas condicionais para uma situação já ocorrida. Ou seja, não há volta, não há como modificar o passado. Por isso, cada vez mais penso que devemos viver intensamente o presente, da melhor forma possível, aproveitando o que a VIDA pode nos proporcionar. Problemas, TODOS tem. Dê soluções aos seus, rápido. Está triste, busque a alegria em coisas simples. Está chorando, procure um ombro amigo, amigo de verdade. Separe o "joio" do "trigo" e não dê importância ao que as outras pessoas falam, a não ser que estejam dentro de um forte círculo de confiança que possui. A cada dia procure fazer algo novo. Você pode possuir capacidades e habilidades que não conhece. Expresse seus sentimentos e não se canse de dizer o quanto você ama seus entes queridos. Não tenha vergonha de expressar seus sentimentos, ainda que seja difícil de expressá-los. E, quando a Morte sorrir para você, a única coisa que você pode fazer é sorrir de volta, pois não somos donos de nossas vidas, Deus é. Tudo tem um propósito e está além de nossas compreensões finitas da matéria. 

Compilando o que o meu amigo Léo Cesar escreveu ontem: 

"Mensagem de fim de ano

Feliz 2012 e que todos seus sonhos se realizem!!! 

Porra nenhuma...Esse ano eu gostaria de lhe desejar algo diferente. Nesse ano que se passou muitas coisas aconteceram para mim e minha família, algumas coisas boas e algumas coisas não tão boas. Quem somos nós para julgarmos os desígnios de Deus? Nossa vida é feita de escolhas e tudo pelo que passamos serve de aprendizado para guiar nosso futuro.(...) Assim, não gostaria de desejar que seus sonhos se realizem porque hoje vejo que o verdadeiro sonho já pode ser verdade e na maioria das vezes nós não enxergamos isso. Gostaria sim de lhe desejar que você abrace seus entes queridos que estão ao seu lado e agradeça a Deus pelo dom da vida, pela saúde de sua família e por poder vivenciar momentos de felicidades ao lado deles. Diga ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, ao seu filho, aos seus irmãos, aos seus primos enfim, a todos os presentes (que fazem parte de sua vida) o quanto você os ama e o quanto são importantes para você. Desejo sim que você tenha uma excelente saúde, que você possa passar pelo ano de 2012 em PAZ (sem se preocupar demais com os problemas) e que Deus lhe dê sabedoria para fazer escolhas certas e para lidar com os problemas que virão"

E, meu querido amigo Luiz, onde quer que esteja: Te amo. Você foi um exemplo de Ser Humano e sua memória será preservada da forma mais bela e pura possível. Obrigado por tudo!

Nota: A foto da flor foi uma das primeiras fotos em que o Luiz descobriu seu talento. Talvez, a primeira. E, com esta, chegou até a ganhar um prêmio de reconhecimento. A partir de então, ele começou a aprimorar a técnica, a se desenvolver (tudo sozinho). Sua capacidade de aprender era ilimitada, especialmente quando envolvia coisas que gostava muito. O título que ele deu à foto foi "tipicamente Brasil", pois a imagem possui as 4 cores de nossa bandeira. Do lado esquerdo, a foto do cristo, feita recentemente (2010), indicando que todos os caminhos levam ao PAI.

   

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