sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Lições 1, 2 e 3

Olá Pessoal!


Resolvi fazer um post sobre o meu ano de 2011, para compartilhar um pouco das experiências que tive. Certa vez, quando ainda era estudante do ensino médio (Colégio Santo Agostinho), uma professora de História me disse que nunca poderíamos viver o suficiente para ter todas as experiências de aprendizado, sendo este motivo suficiente para aprendermos com os outros. Não que eu esteja querendo "doutrinar" com o que vou escrever, não, longe disto! Contudo, as experiências que tive em 2011 foram atípicas e merecem o compartilhamento. Vamos lá...

Passamos o Revellon 2010/2011 dentro de um avião, com destino a França. Fui muito questionado por todos sobre "passar o Revellon dentro de um avião". E eu respondi que seria uma experiência diferente. Exatamente às 00:00, o comandante do Voo anunciou a passagem do ano ,e, junto com isso veio uma forte turbulência, como nunca tinha passado antes, que durou cerca de uma hora. Uma passageira do nosso lado chegou a gritar: "Santa Terezinha-Jesus-Nossa Senhora-Pai José, acode a gente aqui na mão de Maria". Talvez aquilo fosse um anúncio das "turbulências" que iriam ocorrer em 2011. Minha esposa costuma dizer que o que ocorre na noite de Revellon, acontece e se repete durante todo o ano. 


Lições que aprendi 1, 2 e 3


Lição 1 - Cuidado com a alimentação em Viagens (Janeiro-2011):

Certamente a lição aprendida em Janeiro de 2011 foi a de se tomar muito cuidado com a alimentação fora de casa (especialmente em viagens). Agrava-se ainda mais, se você está com fome e não tem outra opção de comida. O desastre é praticamente premeditado. Um amigo havia me dito que um prato muito bom, tipicamente francês, era o  boeuf tartare que nada mais é do que carne de boi crua, moída e misturada com alguns temperos. Um hábito que tenho em viagens é o de nunca comer nada "cru", exatamente pelas condições de higiene alheias. Contudo, com fome e em Paris, inocentemente não relacionei o "tartare" com "carne cru". Me esbaldei, e, o resultado não poderia ter sido outro: uma bela intoxicação alimentar. Pare e pense: DOIS DIAS DE CAMA EM PARIS. 
Bouef Tartare a esquerda. À direita, a melhor foto que pude colocar para representar momentos não tão alegres assim...  
Aí vocês vão pensar: "aprendeu a lição". Não. Não aprendi. Quatro dias depois, estavamos na cidade de Avigon (Sul da França), morrendo de fome (falta de planejamento) e resolvemos entrar em um restaurante que aparentava ser "limpinho" (afinal eu já estava traumatizado). Para comer algo mais "light", resolvi comer uma "salada". Depois de ter jantado, quando estava saindo do restaurante, infelizmente, vi o "mestre-cuca". Fiquei na dúvida se era um "bombeiro-encanador" ou um "cozinheiro", de tanta sujeira que tinha em seu avental e suas mãos. Obviamente, novamente, passei mal de novo. Só que desta vez, desidratei muito e quase fui parar em um Hospital Local. E aí fica uma outra dica de viagem: tenha sempre com você soro de reidratação oral contendo sódio e potássio. Ainda que esteja passando mal e perdendo líquidos, fazendo uso de soro de reposição oral com frequência, você não irá sofrer os efeitos de espoliação(principalmente do potássio): fraqueza, cansaço, dor no corpo, reflexos lentificados, dentre outros.
A escolha Light...
E para finalizar  lição 1, vejamos o vídeo de um típico "mercadinho francês", vendendo "pizzas frescas". 




Lição 2 - O Brasil é um País melhor (estruturalmente) do que você imagina (Fevereiro de 2011):


Em Fevereiro de 2011 fui para a Índia participar de uma conferência de Medicina Forense. Quase 40 horas para chegar ao destino, a cidade de GOA. A proposito, este convite surgiu em 2009, quando àquela ocasião fiquei amigo do Dr. Adarsh Kumar, secretário geral da Academia Indiana de Medicina Forense. Eu não fazia a menor idéia do que nos esperava na Índia. Por isso, levei comigo minha esposa e irmão, apelidados de "equipe de solo". Levamos 17 trabalhos científicos para a apresentação em poster/oral, bem como iria fazer uma apresentação como conferencista principal, sobre como funcionava a Medicina Pericial no Brasil. Apresentei uma curiosa estatística, qual apontei que nos próximos 5 anos, espera-se que 1 a cada 4 médicos será processado (judicialmente ou eticamente). Noutro giro, temos que pouca importância é dada nas escolas de medicina para a formação ético-legal do médico. Muita teoria e pouca praticidade. Os alunos estão se graduando sem saber emitir um relatório, um atestado ou um parecer. Pior, muitos desconhecem a diferença entre estes, bem como seus efeitos/consequências . Das quase 7.500h de carga horária do curso médico, cerca de 0,45% é dedicado ao ensino de assuntos relacionados a questão legal envolvendo a Medicina. E, quando se compara as estatísticas, que 25% dos médicos serão demandados nos próximos 5 anos, fico a pensar se os 0,45% de treinamento técnico que tiveram foram suficientes para evitar/minimizar os conflitos. Fui muito bem recebido na Índia, fiz muitos amigos e troquei muitas experiências.     


Apresentação de Conferência no Congresso da Índia. Um outro (e único) Brasileiro fez a composição da mesa de debates, Dr. Leonardo Cardoso, qual fiz amizade. Além de excelente profissional, é uma pessoa fantástica. 


Depois do congresso, conhecemos algumas regiões da Índia, no chamado "triângulo de Ouro", com os pilares nas cidades de Delhi, Agra (Taj) e Jaipur.

A impressão que tive foi de que tudo era caótico: muito barulho, trânsito uma loucura, inexistência de um sistema de saúde eficaz, ausência de seguro social, desorganização das estruturas básicas de uma sociedade. Para se ter uma ideia, estimam que 80% da água da Índia é contaminada, 10% suspeita de contaminação e apenas 10% é potencialmente potável. Apesar de tudo isso e da miséria que a maior parte da sociedade vive, são pessoas felizes e pacíficas. Muito disso é proveniente de suas crenças, onde o Induísmo é predominante (cerca de 60%), seguido dos Mussulmanos (30%) e outras religiões (catolicismo, espiritismo, etc..). Do riso ao choro (choro compulsivo, diga-se de passagem), a Índia é uma realidade muito difícil, quando comparado com o Brasil. Contudo, indianos tem uma característica muito interessante, são muito comprometidos e esforçados. Não é a toa que alguns dos melhores médicos do mundo são indianos. Noutro giro, temos que aqueles que não conseguem acesso a Educação ou pertencem a castas mais baixas, que são excluídos de algumas atividades, fazem de tudo para conseguir dinheiro (de tudo mesmo!). 
Meu irmão com um comerciante ambulante, que sobrevive tirando fotos com sua "Naja". 

A Naja é um gênero de serpentes da família Roumainy, natural do Sul da Ásia e da África. São conhecidas pelos nomes populares de (Roumainy) ou naja. São animais peçonhentos, agressivos e bastante perigosos. Algumas espécies têm a capacidade de elevar grande parte do corpo e/ou de cuspir o veneno para se defender de predadores a distâncias de até dois metros. Outras espécies, como por exemplo a Naja tripudians, dilatam o pescoço quando o animal é enraivecido. Certamente, eu estava morrendo de medo quando fiz essa foto. Entretanto, fiquei bem mais calmo quando o nosso Guia disse: "calma, eles arrancam as presas da Naja para poder fazer isso. São inofensivas". O único problema é que algumas Najas podem "cuspir" o veneno em sua cara...

As cores marcam muito a Índia: roupas, temperos, comidas e lugares. E a simplicidade das pessoas, bem como a pureza de coração me chamaram muito a atenção. A pergunta que ficava em minha cabeça: "como um lugar tão bagunçado e confuso pode abrigar pessoas tão tranquilas".  



Passeando pelas ruas de Nova Delhi, vimos coisas impressionantes, especialmente na parte antiga da cidade: 




Um Comerciante vendendo água armazenada em um "bucho" (estômago de boi). Os "copos" são uma espécie de "bacia de alumínio" e são comunitários. O custo de uma dose de água: 5 rúpias (15 centavos de real). 



E um dos momentos em que eu realmente tive uma "crise existencial", foi quando entramos no meio de "Old-Delhi", sendo levados por uma espécie de "charrete humana", puxada por um senhor que tinha idade em torno de 60 anos (mas com aparência de mais). Apesar de sua baixíssima escolaridade, ele tentava balbucear algumas palavras em Inglês, mostrando algumas situações do dia-a-dia para a gente. Muita confusão, buzinas para todo lado, desorganização e caos completo. Perguntei ao senhor quanto ele ganhava por mês. Ele me disse que ganhava 2000 rúpias (cerca de 65 reais), trabalhando 7 dias na semana, durante mais de 10 horas por dia. Lembrando que estamos falando de um serviço com exigência de atividade muscular intensa. No final do passeio, quando eu já estava chorando bastante por pensar na situação de vida daquele indiano, dei a ele de presente uma gorjeta de 2.000 rúpias, ou seja, o salário de um mês inteiro de seu trabalho. O senhor me agradeceu muito e ficou perplexo com a gorjeta que eu estava dando. Contudo, ele não fazia ideia de como ELE estava me ajudando e não o contrário.   



Na Índia não existe cinto de segurança, capacete, extintor de incêndio nos carros. Aliás, parece que eles não se importam muito com isso. Enquanto aqui no Brasil nossa preocupação com uso de "alcool x celular x direção", lá, sequer isto é levado em conta.  







Um elefante sendo utilizado como "veículo" no meio do trânsito. Essa foto representou exatamente o que estava sendo visto no retrovisor interno do carro (porque nenhum carro tem retrovisor externo). 
O chamado efeito "ET"(Extra-Terrestre) é um nome que dei para uma situação que vivenciamos com alguma frequência. Quando parávamos em alguns lugares, as pessoas simplesmente se aglomeravam ao nosso redor para nos olhar. Sim, simplesmente nos olhar. As imagens falam por si próprias. 


Ficamos amigos de um motorista de "Tuk-Tuk", qual começou a repetir tudo o que falávamos. Ele chegou a perguntar se éramos do Japão. Meu irmão não entendeu direito e respondeu que sim, que falávamos Japonês. Vejam bem: ELE CONFUNDIU PORTUGUÊS COM JAPONÊS!! Daí foi uma sessão de risadas e mais risadas! Pedimos para ele repetir um monte de besteira em português! No final, ele perguntou como iríamos para o Aeroporto e meu irmão disse que iríamos "de elefante". Crise de Risos. No final, qual o preço da corrida ? NADA. Ele disse que não iria nos cobrar, porque nós eramos amigos dele. Foi o momento mais descontraído da viagem. Obviamente não aceitei o fato de ele não cobrar e dei a ele cerca de 900 rúpias (Cerca de 30 reais). 


O que fica de lição disso tudo ? Temos problemas no Brasil, inúmeros. Contudo, quando conheci a realidade da Índia, que é um País que compõe o chamado "BRIC", verifiquei que temos aqui em nosso País muito mais chance de uma organização societária de fato, em médio prazo. Entretanto, a Índia tem uma vantagem enorme: não há violência como aqui no Brasil e as pessoas são naturalmente e doutrinariamente pacíficas. Que tal fazermos uma troca de alguns valores e experiências?  

Lição 3 - O que é a riqueza Verdadeira ?  (Março de 2011):  

Depois de termos (eu, minha esposa e meu irmão) experimentado todas as vivências da Índia, durante cerca de 20 dias, fizemos um retorno ao Brasil passando por DUBAI. Não tinha a menor ideia do que nos esperava em DUBAI, mas eu apenas queria um pouco de conforto e uma alimentação adequada (por causa do excesso de temperos apimentados da Índia). Quando desembarcamos em DUBAI, tive um outro choque, mas, desta vez, por causa da riqueza. Simplesmente impressionante a suntuosidade e a sensação de "MEGA" de tudo! Organização, infra-estrutura, educação, silêncio...ah, o silêncio! A impressão aqui é de que todo morador (nativo) é rico. Aliás, rico não, milionário. Contudo, fica o questionamento: o que, DE FATO, importa nesta vida: A riqueza material ? A riqueza espiritual ? A riqueza intelectual ? A riqueza emocional ? A riqueza social ? A riqueza familiar ?    






Meu amigo(a), quem dará a resposta ? Apenas você e suas experiências. Para mim, foi um choque muito grande de "contrastes". Uma coisa posso dizer: voltei a "ser criança" quando minha esposa e meu irmão insistiram para que fossemos no "parque temático da Ferrari". Há alguns anos passei a ter medo de coisas mais "radicais". E, não venha me dizer que uma montanha russa que vai de 0 a 240 km/h em menos de 3 segundos não é radical. Fui no tal "brinquedo" obrigado por meu irmão. E...GOSTEI. Como gostei. Aqueles momentos foram muito especiais, pois voltei a ter sensações que há muitos anos não tinha. Rememorei experiências de posicionamento corporal (oriundas da Ginástica Artística) já esquecidas há muitos anos. E, como fiquei feliz. Fez-me entender que quanto mais simples são as experiências, aproximando das sensações de uma criança de divertindo, mais feliz e leve pode ser o dia-a-dia da vida. Não estou dizendo que é necessário ir na "montanha russa da Ferrari" para ter estas sensações. Claro que não! Uma corrida em um parque, descer em um escorregador, se molhar na chuva ou subir em uma árvore são atividades simples que podem proporcionar sensações de muita alegria. Quebra a nossa rotina "pesada".  Obrigado Fá por ter insistido em que eu fosse naquela "montanha russa", pois foi a partir daquele momento, passei a resgatar uma parte de minha infância/adolescência parcialmente esquecida!     

Fá (Fabiano - meu irmão) e Eu na entrada do Parque da Ferrari. 

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2 comentários:

  1. Penso que experiências destes tipos é que fazem as pessoas crescerem, serem melhores. Vocês conheceram aquilo que há de melhor e de pior no ser humano, na vida em geral. Cabe a cada um fazer sua escolha, decidir que tipo de vida quer levar a partir daí. Que estas escolhas possam transformar para melhor a vida de cada um. Conheço poucas pessoas com esta capacidade de síntese, que realmente sabem o que fazer com ela, e isso vc domina muito bem. É sempre um prazer enorme acompanhar sua trajetória. Beijo grande. Margô

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